Para mim, a sexualidade nunca foi um pormenor entre outros, numa relação amorosa. Como se se pudesse dividir a relação em vários elementos: partilha de tarefas e responsabilidades, projectos em comum e projectos pessoais, emotividade, parceria, vida familiar e filhos e, entre todos os outros, mais um detalhe, a sexualidade. Eu sempre a vivi como o conjunto de tudo o que compõe uma relação amorosa. O carinho, a troca de experiências, o conforto, a paixão, a sedução, o amor, o apoio às ideias e projectos de cada um, o caminho em comum, o desejo, tudo isto, na minha forma de viver, tem um espaço comum, uma linguagem, que é a sexualidade. Na primeira visão das coisas, parece-me que se reduz a sexualidade aos actos sexuais, como se o coito, à noite, antes de dormir, fosse a única forma de concretizar a sexualidade de um casal. E, nesse sentido, é apenas um dos elementos da relação e nem por sombras o mais importante. Na minha maneira de ver as coisas, uma conversa confidente, um beijo de bons dias, um orgasmo, a resolução de uma discussão, a sedução e os mimos, a reprodução, a animalidade, lidar-se com o ciúme, um abraço durante o banho, cuidar-se do parceiro quando este adoece, todos estes aspectos de uma vida em comum, de um relacionamento amoroso, são sexualidade, ou pelo menos, eu vivo-os tendencialmente dessa forma. Eu digo que uma relação é uma relação amorosa e outra é uma relação de amizade porque vejo essa diferença fundamental: numa relação amorosa, a sexualidade é a base de tudo, numa relação de amizade continuo a ser um ser sexuado, é verdade, mas não é a sexualidade que alicerça a relação, é algo próximo do amor fraterno. Quando ouço, no contexto de uma conversa sobre relacionamentos amorosos, "o sexo não é tudo", fico confuso e perplexo. Mesmo agora, que a repetição vai esboroando o efeito de surpresa, espanto-me com a afirmação e o conceito que a sustenta. Para mim, habitualmente, "tudo é sexo". Mesmo que os actos ententidos como sexuais passem por periodos de escassa frequência. Na minha sensibilidade e visão das coisas, se não existe sexualidade, não existe relação amorosa. Isto, obviamente, é o que funciona comigo, é o que me define e faz feliz. Cada um é livre para se estabelecer perante o mundo, os conceitos e as emoções da forma que o fizer mais feliz. De qualquer forma estou curioso, se tivessem de escolher a afirmação que mais se aproxima da (vossa) verdade, o que escolheriam, "tudo é sexo" ou "o sexo não é tudo"?
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carpe vitam!
13 de janeiro de 2009 às 15:36Na tua forma de ver as coisas, dá para entender a sexualidade como parte integrante do ser e do agir. e faz sentido para mim, afinal, o sexo está sempre lá, mesmo quando ignorado.
Não sou tão tudo ou nada, poderia dizer que o sexo pode ser a melhor ou a pior invenção natural, mas se eu tentar fazer um balanço, coloco-o no meio. Existem relações amorosas onde a sexualidade me parece irrelevante, aquelas que temos com amigos, pais, filhos, família... não será esse tipo de amor assexuado?
Fizeste-me agora lembrar uma frase do Vergílo Ferreira, no livro Pensar: "Um casal de velhos tem o mesmo sexo".
carpe vitam!
13 de janeiro de 2009 às 15:38eu não chego ao ponto de dizer que há relações assexuadas (basta pensar no Édipo, em Electra, ou na potencial mutabilidade de uma relação de amizade). como somos, acredito, sempre sexuados, as nossas relações são sexuadas. o que digo é que nessa relações que referes - amigos, pais, filhos, família -, a sexualidade não é a base da relação. e quando é, provavelmente há algum desiquilíbrio. nas relações amorosas / românticas é a sexualidade o factor fundamental. quando digo que o sexo / a sexualidade é tudo é porque a forma como duas pessoas se relacionam romanticamente é sexual, acima de tudo. por isso são amantes / companheiros / esposos, e não amigos ou irmãos.
anarresti
15 de janeiro de 2009 às 15:16entendo, também me faz uma certa confusão quando as pessoas dizem que "é só sexo".
Sofia
16 de janeiro de 2009 às 09:39Como ser sexuado que sou, não me consigo dissociar da minha sexualidade em cada fôlego, embora consiga por vezes tornar isso irrelevante. Porque é incontornável, tudo passa pelo sexo, tudo gira à volta dele, o sexo comanda a vida!
Mas é claro que o sexo está pelo corpo todo e o cérebro tem a última palavra.
Para mim o sexo nunca foi uma questão meramente física de satisfação de uma necessidade carnal básica. É claro que também passa por aí, mas vai muito para além disso. É uma forma de expressão, de comunicação.
carpe vitam!
19 de fevereiro de 2009 às 17:38Na minha vida, "tudo é sexo". Ou melhor a sexualidade é transversal a tudo. É omnipresente nas relações amorosas, até nos gestos mais simples. É o alicerce e simultaneamente o reflexo de toda a relação, de toda a cumplicidade, partilha e sintonia do casal.
E nem sempre sou bem interpretada por pensar assim...
dark chocolate
28 de agosto de 2009 às 01:15Não te preocupes se às vezes não és bem interpretada. O importante é sentires-te bem na tua pele. Abraço.
anarresti
28 de agosto de 2009 às 19:30