O que é pornografia

"A pornografia é uma invenção vitoriana". A frase ouvia-a a durante um episódio de The Best Of Pornucopia, em exibição na Sic Radical. A explicação seguiu-se. Foi durante a época vitoriana que a pornografia nasceu. Quando os povos antigos viam as esculturas e imagens de pessoas tendo sexo, não as viam enquanto pornografia. Foi quando uns senhores, muito distintos, se viram com estas imagens, que decidiram que aquilo era material que devia ser afastado de jovens donzelas impressionáveis e que apenas eles, cavalheiros maduros, estariam à altura de ver tais representações. Segundo a wikipedia, "Pornography or porn is the explicit depiction of sexual subject matter with the sole intention of sexually exciting the viewer. It is to a certain extent similar to erotica, which is the use of sexually arousing imagery." Mais à frente é esclarecido: "However, when sexual acts are performed for a live audience, by definition it is not pornography, as the term applies to the depiction of the act, rather than the act itself. Thus, portrayals such as sex shows and striptease are not pornography.".

Nesta definição fica então estabelecido que a pornografia não é o acto sexual, mas a sua representação. E que essa representação, para ser pornografia, é produzida com o intuito de excitar sexualmente o consumidor de pornografia. Tenho de dizer que me agrada esta definição. Põe de lado qualquer discussão sobre se pornográfico é o que é explícito ou não, sobre se o explícito, desde que tenha valor artístico, deixa ou não de ser pornografia. Fica claro, com esta definição, que o que distingue a pornografia de outras representações de actos sexuais é o objectivo com que é produzida. Um filme pornográfico, uma imagem pornográfica, um texto pornográfico, são criados para provocar excitação sexual.

7 comentários :: O que é pornografia

  1. mais do que a intenção de quem produz, não dependerá em última instância de quem vê?

  2. eu discordo, carpe. depende inteiramente (segundo esta definição, que é a que eu defendo) de quem produz.

    claro que para umas pessoas, determinado tipo, ou até todos os tipos, de pornografia, podem não ser excitante.

    e para outras, uma imagem que nem sequer é erotizada, pode ser muito excitante.

    mas isso não tem nada a ver com o que é ou não pornográfico.

    (fiz-me enteder ? :D)

  3. sim, mas tal como os senhores vitorianos decidiram que algumas imagens e produções artísticas eram pornografia, actualmente também se faz isso. a definição da wikipedia é muito clara, mas nem sempre é possível saber claramente qual a intenção de quem produz, por isso é que eu creio que a última palavra é sempre de quem vê e do contexto em que vê. isto funciona assim não apenas para a pornografia como para todo o tipo de comunicação subjectiva.

  4. eu, que sigo a definição do wikipedia, não uso a palavra pornografia para designar algo que eu acho excitante. de facto, há imensas coisas que não são pornográficas (a maior parte até) e que considero muito excitantes. quando uso a expressão, estou a pensar numa indústría em particular. há vários filmes de qualidade que têm cenas sexualmente explícitas (e em vários desses houve sexo verdadeiro entren os actores). dou alguns exemplos: "the brown bunny", "nine songs", "romance X", "os idiotas", "lust caution". acredito que os realizadores, quando rodaram as cenas de sexo explícito, quisessem tornar as cenas excitantes. mas o filme, no seu todo, é uma obra com pretensões artísticas. o sexo é como qualquer outro elemento do filme. serve um propósito, que no final, é artístico. quando um filme pornográfico é produzido, tem apenas a pretensão de agradar (enquanto material que, sendo muito cru, poderia designar como "auxiliar da masturbação") ao seu público. e existem muitas categorias e estilos, para agradar a todas as perversões, fantasias e gostos. sempre no sentido de proporcionar imagens excitantes, que representam o acto sexual. de qualquer forma, esta definição, como qualquer outra, é incompleta e abre espaço a contradições e excepções. é apenas uma definição, entre outras possíveis.

  5. carpe, eu acho que este assunto tem algum interesse. e esta nossa troca de ideias foi estimulante. vou, durante a semana, postar mais um texto sobre o tema, referindo as tuas ideias.

    abraço.

  6. Nos dias de hoje, o que é a pornografia poderia dizer que é um conceito deveras discutível.

    Sendo que, pelo que li, o conceito nasceu, muito antes do tempo da outra senhora, o conceito está um pouco desactualizado, o problema dos conceitos é que são criados numa determinada época, e para entendermos os conceitos temos que nos colocar na mente (temos de ter em atenção estrato social, costumes, formação etc...) da pessoa que criou o conceito, e na época onde foi criado.

    Em tempos passados, as senhoras mostrarem os tornozelos era praticamente considerado sexo explicito.

    Voltando à pornografia, todos nós uns mais que os outros, somos discretos ou indiscretos consumidores. É os sites onde moram fotos profissionais e amadoras de jovens sem roupa, de jovens relacionando-se sexualmente de onde foram tiradas pequenos vídeos ou fotos.

    Até temos, desde sempre, revistas com BDs ditas porno.

    É claro que acima de tudo, é um conceito, pornografia deve ser visto não como imagens, vídeo, ou mesmo ao vivo e a cores, mas sim como um puro conceito que cada um de nós perante certas e determinadas situações vai determinar como pornográfico, erótico, artístico, ou mesmo cientifico.

    Por exemplo, uma foto de um membro sexual, poderá ser considerada pornográfica por uma pessoa (basta que tenta tido uma educação [pseudo] moralista bastante grande, encontramos isso em muitas pessoas de uma idade já um pouco avançada, que lhes foi ensinado a reprimir muito da sua vida pela sociedade educacional e religiosa de então), essa mesma imagem para outra pessoa pode ser considerada erótica, e para outra imagine-se até considerada científica, é claro que a mesma imagem num livro como a "Gina" ou uma enciclopédia médica também ajudará a definir o seu conteúdo (mesmo sendo sempre a mesma imagem [a crise obriga ao uso das mesmas imagens para tudo lol])

    Gostei dessa parte de que a pornografia não é a concretização, mas sim a indução...

    Para mim, assistir a uma sessão de sexo ao vivo ou ir ao site do artecorporal ou as fotos e pequenos filmes (amadoras ou profissionais) que recebo por e-mail são maioritariamente pornografia sem objecto possível de discussão, contudo, também existem trabalhos que circulam por aí, que sem sombra de dúvida são eróticos, muitos das imagens que circulam da playboy ou da editora abril )que tem uma revista que agora não me lembro o nome).

    Mas no fim, tanto o erotismo como a pornografia, realizam o mesmo objectivo, abrir o apetite (mais ou menos) de quem vê, simplesmente no erotismo a vontade é mais reduzida por não ser algo de explícito, na pornografia a vontade pode-se tornar maior por ser mais explicito (é claro que depois também há os números de contorcionismo...)

  7. Ontem vi um episódio de um reality show que se passa num strip club. Uma das strippers estava a tentar fazer algum dinheiro no mercado das revistas pornográficas. Foi mostrado um pouco de uma sessão de fotos pornográficas dela com o namorado. Lembro-me de a directora artística (não sei qual a designação mais acertada, escolho esta) dizer ao namorado da stripper, "atenção, quando estiveres para ejecular, avisa, que nós temos que captar isso nas fotos".

    http://www.mapplethorpe.org/selectedworks.html

    Robert Mapplethorpe e um fotógrafo muito importante. E uma parte do seu trabalho tem nudez, que não foge da exposição dos genitais, pelo contrário, até gosta - principalmente nos nus masculinos - de os destacar.

    Num e noutro caso há corpos nús, erotizados pelo olhar da câmara e do fotógrafo. Num e noutro caso, as fotos podem ser consumidas como material excitante.

    Qual é a diferença? A preocupação da tal directora artística é simples: produzir fotos do agrado do consumidores da revista, fotos excitantes. Mapplethorpe, que fotografou pessoas nuas em fotos muito sensuais (nem todas têm essa preocupação da sensualidade mais óbvia, mas muitas são sensuais), tinha uma atitude muito politizada (tendo-se tornado um ícone cultural nos movimentos e na cultura LGBT), uma mensagem política, cultural, identitária muito forte e assumida.

    Os conceitos não são o mais importante de tudo. Mas ajudam. Dão-nos uma estrutura, coordenadas, são ferramenta. E, por serem tão aparentemente fixos e deterministas servem, na perfeição, o propósito de serem contestados, reavaliados, rejeitados. Também é para isso que eles servem.