chuva

tiro-te o vestido e beijo-te o rosto molhado. enquanto a água corre, aquecendo, abraço-te com o meu calor sereno. cinco gotas e vemos a espuma a formar-se. tiro a minha roupa e o que resta de agitação. entramos na água sem falar, o estrépito clamoroso da tempestade martelando o vidro da clarabóia. as duas velas emprestam aos azulejos uma cor de lareira, de recolhimento, de fogo lento. sorris quando dizes, estás tão longe. sentas-te à minha frente, as tuas costas no meu peito, o meu pénis um pouco acima das tuas ancas. abraço-te, beijo-te o pescoço, deixo as mãos abandonadas à geografia do teu corpo. levantas um pouco as ancas para te sentares de novo, encaixada no meu corpo. a água da banheira agita-se, à medida que vamos escalando o prazer, habilmente. a chuva pára por momentos, deixando-nos expostos perante o silêncio, as respirações volumosas, em aceleração. do exterior rebenta um som intenso, quando susténs a respiração de olhos cerrados e mãos apertando as minhas, de dentes cravados no lábio, antes de um pequeno grito no hálito da nossa carne. são pedras de gelo batendo nos vidros, nas telhas, granizo projectado contra a terra, a partir de uma qualquer bizarra indignação dos céus, um resfriado das nuvens, uma brincadeira de crianças ou anjos.

1 comentários :: chuva

  1. gosto muito destes teus esboços. são inspiradores e deixam espaço para colorir! gracias :)